Ansiedade pode ser vista como algo bom, como uma expectativa de algo que você deseja que aconteça e que você está esperando ansiosamente. Esta é uma ansiedade agradável.
Por outro lado, podemos analisar a ansiedade como sendo uma sensação de desconforto mental, uma inquietude, uma sensação de vazio interior, falta de paz, angústia. Há pessoas que tem ansiedade constantemente mais intensa do que outras.
Todos os seres humanos têm ansiedade, assim como todos têm temperatura corporal, sendo 36.5o Celsius ou Centígrados o valor normal. Entretanto, nem todo mundo tem febre, que é uma elevação anormal da temperatura corporal. Da mesma forma nem todas as pessoas apresentam ansiedade alta ou exagerada.
A ansiedade excessiva diminui o campo da consciência. Uma pessoa muito ansiosa não percebe bem as coisas ao seu redor e nem dentro de si mesma. Quando ela está mais calma, então pode desfrutar de muitas coisas que antes não podia por estar nervosa, angustiada, inquieta, ansiosa.
A presença da ansiedade perturbadora na pessoa pode se apresentar tal como o nome indica: ansiedade, ou seja, a pessoa diz: “Estou muito ansiosa! Estou inquieta!”, ou “Estou aflito!” Isto é a manifestação direta da ansiedade. Trata-se de um estado de ansiedade que pode ser passageiro ou crônico.
Mas ela pode se manifestar através de comportamento impulsivo, ou obsessivo-compulsivo (a pessoa pensa fixamente numa coisa e se sente obrigada a faze-la para se aliviar da ansiedade), ou na doença do pânico (crises agudas de ansiedade nas quais a pessoa sente que vai morrer, geralmente através de um ataque cardíaco, ou que vai perder o controle, vai enlouquecer), ou numa fobia simples (medo de avião, de elevador, de bichos inofensivos, de contaminação, etc.) ou fobia social (medo de sair sozinho, de estar em meio à pessoas, de fazer algo sob os olhares de alguém), ou numa reação de somatização (quando o corpo sofre algum distúrbio originado na mente), etc.
Uma pessoa pode negar que é ansiosa e apresentar ansiedade disfarçadamente, como nas situações que citei acima ou de outras maneiras. Ela pode ter inconsciência da ansiedade alta porque este sofrimento pode aparecer de outros modos sem ser explícita e direta.
A ansiedade em geral é um sintoma de conflitos interiores comumente inconscientes para o indivíduo. Assim como a febre é um sinal de que há infecção ou inflamação em algum ponto do corpo, a ansiedade excessiva pode ser o sinal de que alguma coisa está em conflito no psiquismo, ou há neuroquímica ou neurotransmissão prejudicada por algum efeito medicamentoso, trauma, disfunção cerebral.
É importante compreender que a ansiedade pode ser um traço ou um estado. Quando ela é um traço, dizemos que a pessoa é ansiosa. Quando é um estado, dizemos que ela está ansiosa, temporariamente. A primeira é crônica enquanto que a segunda é passageira. Entretanto todos nós possuímos ansiedade, chamada pelos filósofos de ansiedade existencial, cuja resolução se processa através de instrumentos espirituais, sendo no Cristianismo com o estudo da Bíblia, oração, fé num Criador amoroso e ajudador, etc.
A ansiedade só deve ser tratada com medicação – ansiolíticos ou tranqüilizantes – quando está num nível muito alto perturbando o bom desempenho pessoal e social do indivíduo. Mesmo assim o tranqüilizante deve ser usado sob supervisão médica e por tempo determinado, o mais curto possível. O psiquiatra e o psicólogo clínico são os profissionais capacitados para atender as pessoas com ansiedade perturbadora, em quaisquer de suas formas, e oferecer ao paciente algum tipo de psicoterapia para o esclarecimento, redução e regulação da ansiedade e reestruturação das defesas.
O psiquiatra pode fornecer tratamento medicamentoso e psicoterápico se ele tem formação em psicoterapia, enquanto que o psicólogo clínico pode fornecer somente a psicoterapia, não podendo medicar a pessoa porque não é médico. Os remédios que exigem receita especial para controlar a ansiedade são chamados tranqüilizantes, ansiolíticos ou calmantes.  Há casos de transtornos ansiosos que devem ser tratados com outros medicamentos como alguns antidepressivos de última geração (os inibidores de recaptação da serotonina e noradrenalina).
Uma das coisas mais importantes para fazer com a ansiedade alta é aceitar que ela existe. Muitas pessoas não conseguem identificar a ansiedade como algo seu, que vem de dentro, afirmando que são como são porque alguém as fez assim, ou porque a maior parte da ansiedade delas está concentrada num sintoma físico sem que elas entendam que este sintoma no corpo tem que ver com seus conflitos pessoais.
Outro passo é pensar que a ansiedade ou angústia inerente ao existir é parte da vida e que não dá para eliminá-la, mas sim aprender a lidar com ela. Mas algo pode ser mudado em sua ansiedade excessiva desde que você lute para mudar a corrente dos pensamentos ansiosos e preocupantes que possa ter, e isto se faz, primeiro, pela percepção de que talvez você tenha a tendência de cultivar pensamentos ruins, destrutivos, autodepreciadores, e, segundo, por decidir interrompê-los e substituí-los por pensamentos saudáveis. Isto é um exercício que só a pessoa pode fazer por si e que nenhum remédio de farmácia consegue fazer.
Algumas pessoas ficam com ansiedade perturbadora porque precisam tomar uma decisão para parar o sofrimento e adiam isto. Então, veja o que você pode fazer para mudar a situação e tome um atitude. Faça o que depende de você, e pare de adiar o que pode e precisa fazer agora! Se algo não depende de você, comece a pensar que precisa aceitar a situação. Ao aceitá-la, ao invés de ficar brigando consigo mesmo, com pessoas, com a vida ou com Deus, relaxe e aceite. Há uma perda. E ela é real. Volte-se para outras coisas em sua vida, pois você ainda está vivo e lúcido, por isso pode fazer algo de bom para si mesmo.
Outro passo importante é evitar se concentrar na dor emocional. Comece a pensar no que dá para fazer. Pense em coisas construtivas para achar saídas para seu sofrimento. A saída começa ao se pensar sobre o assunto e suportar a dor. A dor não é você. Você a sente, mas não há outras coisas funcionando bem? O sentimento da dor não tem que possuir sua mente e ocupá-la por inteiro. Ela é algo em sua mente, não o todo. O resto, a capacidade de pensar, de tomar decisões racionais para mudar o necessário, de fazer escolhas, permanecem intactas. Esta parte intacta é que deve ser usada agora para cuidar (melhor) de si. Ninguém fará isto por você, nem remédios, nem profissionais de saúde, nem quem o ama. É você mesmo.
Não fique lamentando ou falando de sua dor para as pessoas. Pare de ter pena de si e do papel de vítima. Sendo adulto é possível pensar, não precisando negar a dor, mas também não precisando ser dominado por ela. Não vem dor maior do que nossa capacidade de lidar com ela. Você é maior do que sua dor. Já a expressou o suficiente? Já chorou o suficiente? Já a verbalizou o suficiente para alguém confiável, ético, e que ouviu com empatia? Então, agora é hora de parar de chorar, de lamentar, de ficar falando para as pessoas sobre sua dor. Agora é hora de cuidar de si mesmo com serenidade, aceitação, humildade, perseverança e esperança de melhores dias, pelo menos dentro de você.
O filósofo dinamarquês, Sören Kierkegaard, estudioso da angústia humana afirmou que aquele que aprendeu a lidar corretamente com sua angústia (ansiedade), aprendeu o mais importante (“O Conceito de Angústia”, Hemus, 1968). Este aprendizado não é feito pela medicação, mas pelas informações sobre seu sofrimento, pelo desabafo do mesmo num relação confiável e ética com pessoa capacitada para ajudar, pela aceitação da angústia existencial e pelo entendimento do que é preciso mudar na sua maneira de funcionar como pessoa, primeiro consigo mesmo e depois com as outras pessoas. E outra coisa importante: a vida é terapêutica. Ou seja, ela ensina muita coisa que pode aliviar a ansiedade excessiva se você estiver aberto para a verdade, cultivar desejo voluntário de mudar e prestar atenção nas mensagens da Vida.
 
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza – médico psiquiatra
www.doutorcesar.com.br

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